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A mostrar mensagens de maio, 2021

SONHO DE MÃE NEGRA

Mãe negra Embala o seu filho E na sua cabeça negra Coberta de cabelos negros Ela guarda sonhos maravilhos Mãe negra Embala o seu filho E esquece Que o milho já a terra secou Que o amendoim ontem acabou Ela sonha mundos maravilhos Onde o seu filho iria à escola À escola onde estudam os homens Mãe negra Embala o seu filho E esquece Os seus irmãos construindo vilas e cidades Comentando-as com o seu sangue Ela sonha mundos maravilhos Onde o seu filho correria na estrada Na estrada onde passam os homens Mãe negra Embala o seu filho A escutando A voz que vem longe Trazia pelos ventos Ela sonha mundos maravilhos Mundos maravilhos Onde o seu filho poderá viver SANTOS, Marlino dos,Conto do Amor Natural, Coleção Timbila,n-°1, Maputo, Associação dos Escritórios Moçambique

PAIXÃO

 Sempre me dei aos teus braços como um pássaro aprisionado. O meu olhar  cintilava ao fremir das asas  do teu voo  e juntos voávamos mais. Rasguem-me as penas sadicamente uma por uma  e mesmo assim verão  que belo pássaro aprisionado  incansável esvoaça contigo  doido no amarelo da esperança à nudez de cada manhã. CAVEIRINHA, José,Poemas da Prisão,      Maputo, Editora Ndjira,2003

O MEU PREÇO

Eu cidadão anónimo  do País que mais amo sem dizer o nome se é para me dar de corpo e alma dou-me todo como daquela vez em chaimite. Dou-me em troca de mil crianças felizes  nenhum velho a pedir esmola uma escola em cada bairro salário justo nas oficinas filas de camiões carregados de hortaliças um exercício de operários todos com serviço  um tesouro de belas raparigas maravilhando as praias e ao vento da minha terra uma bandeira sem quinas, Se é para me dar Dou-me de graça por conta disso Mas se é para me vender vendo-me mas vendo-me muito caro. Ao preço incondicional De quanto me pode custar este poema                                              (Dezembro/1969) Craveirinha, José,Cela 1, Maputo, Instituto Nacional do Livro e do disco,1980